Monday 17 November 2008

ÍNDIA

Himachal Pradesh - Um homen que sabe o seu caminho
"Um homem que, ali, sabe o seu caminho, pode desfiar a polícia da capital de Verão da Índia, tão engenhosamente uma varanda comunica com outra varanda, alada com alada, e abrigo secreto com abrigo secreto. "
in Kim por Rudyard Kipling

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Todas as princesas da Índia fixam através das suas janelas decoradas de madeira cinzeladas, a fim de verem esta caravana passar pelas aldeias, sofrendo as pesadas quedas de neve dos Himalayas. Elas expõem a sua pele delicada à luz do dia para desejá-lo fortemente, estimulando essa coisa quente entre as pernas. Mas ele não pode parar a viagem da sua caravana, como o músico itinerante, o marido ciumento lhe cortaria a cabeça só por um olhar.

Oiçam todos os anjos de Deus choram, o coro canta Lacrimosa neste Requiem, mais uma lenda está prestes a cair. Kim está deitado agonizando no seu leito de morte. À medida que as nuvens negras cobrem a luz do dia, o fim torna-se cada vez mais próximo, mais assustador e angustiante do que nunca.

Um macaco quase me roubou os meus óculos quando estava a deixar Jaku Mandir em Shimla. Ele saltou para a parte de trás do meu ombro, agarrou-me e tentou tirar-me os meus óculos da cara. Felizmente, fui mais rápido do que ele, tirei-os antes mesmo antes de ele amarrar na armação. O sacana não desistiu sem os entortar. Curiosamente, o templo alberga Hanuman, o Deus Macaco, comandante dos exércitos de macacos no Ramayana.

Uns dias depois, vim a saber que Hanumam também Senhor da respiração, Filho do Deus do vento, tem cinco faces e vive em nós sob a forma de cinco ventos ou energias, e impregna o nosso corpo, mente e alma...
in Light on Pranãyãmã por B.K.S. Iyengar

De volta em Odder, os pássaros ainda cantam. Os campos tornam-se verdes, à medida que se aproxima a primavera.

Fui para as montanhas. Aí, os corvos crocitavam que Kim tinha desaparecido numa pesada tempestade de neve. À partir de então, mais ninguém soube do seu destino.

Acerca do sino budista que chama para o Puja, enquanto os crânios rapados juntam-se numa assembleia em meia lua, cantos religiosos são cantados na alegria budista. Os trajes púrpura escura, parados ao sol, sentavam-se em uníssono perto das folhas grandes das árvores fruteiras.

Vozes femininas que recitavam cantos religiosos, ouviam-se na noite.

O chá doce e o chá salgado
As monjas, as chomos, trazem a comida para o almoço e para o jantar, pelo caminho de terra no qual a Svastika e as Quatro Jóias do Budismo foram desenhadas. Fazem-no todos os dias, por volta de mais ou menos a mesma hora, devagar sem pressas, e trazem o chá doce ou o chá salgado a fim de aclamar as nossas almas com sede.

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Por volta de 1900, um monge japonês budista zen, viajou vários anos entre a Índia e o Tibete. Ficam aqui alguns dos seus comentários.

Acerca do estilo dos debates tibetanos:
"... Quando ele (um dos participantes) profere as palavras de uma pergunta, ele bate com as mãos e os pés. O professor ensina sempre os catequista que o pé devem cair com tal força que a porta do inferno partirá e abrirá, e as mãos devem fazer um barulho tão grande que a voz da sabedoria assustará os demónios pelos mundos fora..."
Ekai Kawaguchi

No Tibete, o Funeral Celeste consiste em cortar os cadáveres dos mortos em bocados mais pequenos, e de deixá-los num lugar aberto a fim de alimentar os abutres. Entre os monges tibetanos, alguns são responsáveis por esta preparação.

"... Eles preparam o chá, ou ajudam-se a si próprios para cozer farinha, com as mãos salpicadas com puré de carne humana e ossos, porque eles nunca lavam as mãos antes de preparar o chá ou de tomar comida, a única coisa que eles fazem é bater com as palmas, a fim de livrar dos fragmentos mais grosseiros. E assim tomam uma boa quantidade de carne moída, ossos ou cérebro, misturada com o chá ou a farinha... Quando sugeri que eles podiam lavar as mãos antes de tomar refrescos, olharam para mim com ar de espanto. Zombaram a minha sugestão, e ainda observaram que comer com as mãos por lavar adicionava condimento à comida; além disso, o espírito do defunto estaria satisfeito se os visse tomar fragmentos dos seus restos mortais com a comida sem aversão."
Ekai Kawaguchi

Tudo parece muito mais claro agora que a neblina desapareceu da minha mente. As montanhas são chamadas montanhas, os vales, vales, e os cumes com neve tornam-se mais distintos à medida que são atingidas alturas nunca vistas. Estive cego durante mil anos, estava a imaginar paisagens diferentes e outras imagens. Apesar de tudo, o caminho para dentro das profundezas do vale é longo mas extremamente gratificante. Guia o meu pé nesta viagem de maneira a que não me afaste.

Não confio nestes homens que caminham de mão dadas na rua, e que sentam nos joelhos uns dos outros.

O meu barco foi afundado por piratas no rio. Vagueio agora, pela selva, há dias a fio sem ver rasto humano. Estou provavelmente a caminhar e círculos.

Não há futuro, não há passado, mas apenas e somente presente, principalmente e essencialmente agora, aqui e nada mais. Não há memórias passadas, não há experiências esquecidas, não há tristeza, não há remorso, não há escravatura, não há afeição ao que não existe, e por isso, inalcançável e ilusório futuro. Mas alegria sem fim no momento presente.

Não existe possibilidade de retratar tamanha beleza, apenas uma ínfima parcela consegue ser memorizada. Porém, ela pavoneia-se em frente dos nossos olhos, sem que possa fazer coisa alguma a fim de possuí-la.

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Não consigo desenhar o som contínuo e nocturno dos insectos nem o insuportável calor tropical.

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