Wednesday 30 April 2008

ÍNDIA

O narguilé de flores cinzelado sem propósito
O narguilé de flores cinzelado estava em cima da mesa na altura da minha chegada. Através da cortina, podia-se ver uma águia feita de ouro, na árvore em frente à janela. Perto, o monge tibetano estava a ler textos sagrados em silêncio, sentado de pernas cruzadas, inclinando e levantando a cabeça e o tronco, ao ritmo imaginário que a leitura impunha. O dhoop queimava devagar num dos cantos do quarto, o fumo perfumado enchia o ar da sua lembrança efémera. Tudo se encontrava no seu devido lugar, parado, silencioso e sem qualquer intenção ou vontade, mantendo-se apenas e daí sem propósito. Apenas uma mosca e o som do sino budista que vinha de cima, água estava a correr nos canais no templo hindu, mais abaixo no vale.

Na cabana que vendia chá, depois de atravessar a ponte, o velho ou a miúda, preparam o chá com leite para os clientes. E se forem para o leito do rio, seco nesta altura do ano, podem ver pequenas caravanas de mulas atravessar os rochedos, conduzidas por homens com turbantes. O rio corre abundantemente quando a neve funde lá em cima nas montanhas do Daulahdaur, mas a maior parte do tempo, não passa de um pequena poça com peixes, de águas paradas, que pode ser atravessado sem grande esforço.



As paredes à entrada do templo perto da estrada são de uma cor branca que cega a vista, debaixo do sol, e o velho embrulhado no seu cobertor espera por transporte.

Todos os estudantes estavam sentados no chão no topo do prédio, ao ar livre, como é costume fazer-se na Índia e no Nepal, todos reunidos sob a vigilância do professor de Gramática e de um lama de alta nível, vindo de Mac Leod Ganj, concentrados em fazer os seus exames escritos, todos de frente para o Ocidente (sem razão nenhuma, foi apenas a maneira mais conveniente de dispor todos os alunos). Ao que parece, não montaram nenhuma tenda desta vez, foi tudo feito ao ar livre debaixo do sol ao sopé dos 4000 metros da parede do Dauladhaur.

Himachal Pradesh -Masrur
Tive de caminhar uns tantos quilómetros para chegar a Masrur, os templos de pedras ficavam bastante distanciados da estrada. Felizmente, um jovem de vinte anos, que chegou no mesmo autocarro, e como eu era o único a descer nesta paragem, e ocidental ainda por cima, começou a falar comigo, e ofereceu-se como guia até ao lugar. Então depois de tomarmos chá e uns doces na barraca, bakshish outra vez, começamos a caminhar. Por sorte, ele morava perto.

Estava preocupado em chegar lá depois de anoitecer, estava-se a fazer tarde, o autocarro levou tanto tempo para fazer a viagem, seguiu uma rota mais longa, segundo percebi, foi por isso que hesitaram tanto tempo na estação antes de me venderem o bilhete. Não foram capazes de me explicar a situação, ou não quiseram, como acontece frequentemente na Índia. Política indiana, suponho eu.



Quando o meu guia parou, ele disse que tinha chegado a casa e apontou para a direcção que eu tinha de seguir. Então, comecei a subir uma colina através de um bosque. Siga o trilho, costumam dizer.

Quando cheguei ao topo, podia perfeitamente ver essas construções de pedra, o lugar era isolado e ninguém se encontrava lá.
Senti os antigos sábios através do silêncio e da solidão das altas pedras trabalhadas dos templos de Masrur, a presença deles podia-se sentir pairar por cima do topo das torres dominando as águas verdes do lago. A presença das suas meditações silenciosas sussurrava à volta dos rochedos ao fim desta tarde. De repente, este fragmento de tempo tornou-se mágico quando o tempo parou e quando mostrou um esboço de eternidade, numa perpétua emanação deste lugar.

Enfrentei-o num segundo apenas, enquanto o sadú de cabelos compridos se mantinha à entrada da sua casa de madeira.

Nota: bakshish é um costume asiático que faz com que um favor requer outro em troca.

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