Saturday 6 October 2007

NEPAL

Jumbesi - Thubten Choling


Após três dias de marcha, chegámos a uma aldeia chamada Jumbesi. Tivemos a sorte incrível de chegar no dia do começo do Buda Purnima, os festejos do aniversário do Buda Shakiamuní, que como é lógico, acontecem apenas uma vez por ano, e segundo o calendário lunar tibetano. Jumbesi é uma pequena aldeia elegante no meio dos montes verdes, e é uma escala interessante de se fazer, dados os mosteiros que se encontram nos seus arredores. Deve receber bastante gente de fora, pelo aspecto atraente e bem cuidado do lugar. Aliás, o trajecto todo deve receber bastantes forasteiros, e deve ser uma fonte de receitas importante, pelo número elevado de locais que estão dispostos a receber visitantes.



Depois de termos explorado a pequena aldeia, juntámo-nos à procissão de pessoas que saíram do templo, carregando as efígies do Buda. Após uma curta marcha pela aldeia, fomos parar ao mosteiro local, onde deixaram as imagens, e onde a população se reuniu no interior. Ofereceram-nos chá e bolachas, ao Yves que ficou mais tempo do que eu, ofereceram almoço, eu saí para explorar as redondezas.
Mais tarde, voltámo-nos a encontrar, e decidimos ir a outro mosteiro, o Thubten Choling que fica mais longe, e que é rodeado por uma aldeia de estudantes budistas, que lá vivem a fim de se formarem em filosofia budista tibetana.

Jumbesi - Buda Purnima


Estávamos a três dias, apenas de Jiri, mas o Yves não quis continuar, alegava que estava cheio, que já tinha caminhado mais de uma semana, com o tal guia das rodadas, e que queria voltar para trás. Para mim, significava continuar com outros viajantes, ou voltar para trás com ele. O objectivo inicial da caminhada que tínhamos combinado entre nós não era chegar ao Everest, mas sim chegar o mais perto possível para se ter a melhor vista possível da dita pirâmide preta. Ora de Jumbesi, não tínhamos vista nenhuma, pelo menos, para o Everest. O Yves cansou-se, e não quis continuar.



Estava um grupo de deusas dinamarquesas na nossa estalagem, com guias, portadores, e material, enfim uma expedição a sério, na qual só faltavam palanquins, e escravos que as carregassem monte acima. Como não me apeteceu juntar ao grupo, e como estava a improvisar já há uns tempos, isto é a viajar sem rota, nem plano, ao sabor da maré e dos ventos, resolvi voltar com ele. Mesmo assim, três dias de ida mais três dias de volta, mais o dia de folga, perfaz uma semana, no Solo Khumbu nepalês, o que deu plenamente para provar as iguarias locais e outros pratos, se bem que tinha continuado de boa vontade. Noutra encarnação se calhar.



Pelo caminho, cruzámo-nos com um dois franceses que voltavam do base-camp do Everest, estavam em estado lastimoso. Disseram-me que o Garcia, o alpinista português que já tinha conseguido uma ascensão ao topo da montanha, estava na região para uma segunda escalada, que foi conseguida como vim a saber depois. Por pouco não nos cruzámos. Garcia tinha perdido um companheiro seu durante a primeira subida. Um cidadão de nacionalidade belga.



Não deixei de fitar, o meu companheiro, também de nacionalidade belga, que fazia a caminhada comigo. Estranha coincidência... A nós não nos aconteceu nada. Chegámos a Jiri, e seguimos para Katmandú. Aproveitámos o desconto de um taxista, que tinha trazido mais uma deusa do alpinismo e o seu guia, há gente que paga caro para terem aventuras extraordinárias, e agências que lhes fazem a vontade. Enfim... Optámos pela versão sem guias nem agências de viagens. Também tem o seu preço, mas muito mais poder de decisão e de escolha.



Vi um lagarto verde de metro e meio atravessar a estrada, quase que provocava um acidente. Deixamos os montes mais altos, e os seus cumes de neve, e voltámos para a selva mais baixa em altitude, das regiões de Katmandú. As paisagens são sempre deslumbrantes, a qualquer altitude.



Como os acontecimentos o provaram em 2007, 2008, as várias regiões que atravessei, estavam repletas de grafitis de tendência comunista, isto pelo país todo, principalmente, muros de aldeias pintadas com ícones comunistas. Coisa que me intrigou na altura mas que viria a perceber, quando os maoístas deram que falar mais tarde. Ao que consta nas últimas notícias, abandonaram, o governo com qual tinham formado uma coligação, por não conseguirem depôr a monarquia absolutista que reina a vários séculos no Nepal. Não me parece que a estabilidade volte tão cedo ao país mais alto do mundo, ambas as facções são culpadas por abusos e crimes que não resolverão de maneira nenhuma, a pobreza extrema que assola o Nepal.







Solo Khumbu - Thado Khola

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