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Tuesday, 28 June 2016

Crask, Scotland

Highlands, Scotland

Monday, 2 May 2016

Macao, South China

Macao, Coloane. Tyfoon force 8, they closed the bridges, inhabitants were advised to stay home. It lasted for three days.

Macao, Av. Almeida Ribeiro.

Monday, 8 February 2016

Tashkurgan, Xinjiang, China.

They suddenly stopped in front of me. Tashkurgan, Xinjiang, China.

Monday, 18 January 2016

Hunza - Kunjrab

Around Baltit, Hunza, Pakistan. Because I was feeling cold and gloomy. This one scares me somehow, life can be very fragile in some places.
Kunjrab pass, Pakistan-China border. Loads of wild marmots and Chinese soldiers racing on hairy camels, unfortunately not included.

Monday, 6 July 2015

Jumbesi - Nepal

Thubten Choling — Jumbesi, Nepal.

Thursday, 19 July 2012

Kalpa - Roghi - Kinnaur

Kalpa - On the way to Roghi
kalpa - kinnaur

Kalpa - On the way to Roghi
kalpa - kinnaur

This kind of blue is so fragile that it could break with a breeze. I've met these shapes of blue twice in North of India. The first time was in the outskirts of Kalpa, the second at Key Gompa in Spiti. You might catch them early in the morning, or just by luck. This blue is so light that you won't stop thinking about it for a while because you've never seen it before. It's like facing the sun it can blind you. That's blue for boys and pink for girls, I guess. Floating like a mobile above the baby's cradle or just an nice impression in the air.

Wednesday, 12 August 2009

ÍNDIA

Dalhousie
Ouvia-se um canto Qawali quando deixei Dalhousie. Calmo sem percussão, apenas com uma voz triste e harmónio. Vinha da vila que se pendurava na encosta agreste. Podia-se ouvir por cima dos topos das montanhas.



A jornada de Patankhot para Dalhousie, através de uma mudança repentina de paisagem, deixa as planícies quentes e áridas indianas, para uma subida abrupta que mais tarde atinge os 2000m. Consegue-se ver a imensidão da planície indiana mas também a aridez da mesma que mais se assemelha com a ideia geral da paisagem indiana. Esta contrastante ruptura com o aparecimento dos férteis sopés que se tornam altas montanhas, marca o princípio, o nascimento do sistema himalaico. À medida que se vai subindo, a paisagem transforma-se em florestas alpinas de cor verde escuro, um alívio do calor da poeira do deserto punjabi, como se finalmente, alguém removia dos meus ombros este fardo ardente.

Fizemos uma paragem momentânea em Dunera, um minúsculo ponto no caminho. Não era um sítio de grande interesse, mas ficou-me uma impressão agradável de sumos de laranja e odores de sementes de chili por entre os vendedores de rua.

Encontravam-se cristãos locais no autocarro, uma raridade nestas paragens. Lembrei-me da crucificação, e do sangue nas palmas, ardiam cristãos e ouviam-se solos de alaúde. Quando os rapazes perguntaram por ele, responderam de maneira tosca, brincando com nozes de bétele.

As mansões coloniais britânicas pareciam estar repletas de fantasmas e de teias de aranha, e talvez de ratos e correntes enferrujadas. Algumas abandonadas num estado sujo de avançada putrefacção.

Um fulano agarrou-me pelo braço na estação e trouxe-me até uma espelunca relativamente agradável, onde eu iria acabar por permanecer alguns dias. Bons preços podem ser combinados durante o Inverno, após o fim da estação turística. Deram-me uma varanda com vistas para as abruptas encostas alpinas, e mais interessante ainda, com cadeiras.



Isto tudo está realmente a acontecer neste preciso momento num lugar distante, sempre pensei que era um conto que se lia em livros ou se via em filmes, mas está realmente a acontecer, e vive algumas infinidades de realidades num só mesmo momento.

Durante as primeiras horas em Dalhousie, caí no que eu chamo o dilema do viajante, a pergunta estúpida “o que é que estou aqui a fazer?” estava constantemente a irromper na minha cabeça. Cedo, na manhã seguinte, tive a resposta. De Ghandi Chowk, mesmo no meio da praça pública, podia ver a linha do horizonte, ou melhor, os cumes repletos de neve do Pir Panjal, que formavam uma barreira natural escondendo da minha vista o Caxemira e Jamú.

Estes mitológicos jardins ficavam proibidos para mim (e para outros) por causa do beco sem saída político criado após a partição sangrenta. A televisão indiana mostrava mortes todos os dias nos noticiários, quatro, cinco separatistas abatidos hoje, os corpos mortos alinhados às botas dos soldados em turbantes. Repara-se que apenas um por cento desta informação acerca da guerra no Caxemira chegava ao ocidente. Mesmo assim, todos os dias …

Em Dalhousie, podem ver-se coloridos baixos relevos religiosos, esculpidos pelos tibetanos no caminho que leva até Subbash Chowk, Padmasambava e outros budas, e heróis, no caminho onde abundam legiões de macacos selvagens.

Os tibetanos têm um mercado em Ghandi Chowk que mais parece uma cave ou um túnel. O exílio deles numa terra estrangeira deve ter-lhes feito fugir do sol.

De Ghandi Chowk, o Pir Panjal e o sistema himalaico aparecem numa vista panorâmica de quase 180 graus completos, e que fizeram com que as minhas dúvidas sombrias e obsessivas desaparecessem totalmente dos meus pensamentos cansados. Os picos himalaicos de neve na luz matinal apresentavam toda a sua majestade e verdadeira beleza antes os meus olhos. Que jardins escondidos e histórias de morte estavam para ser descobertos e ouvidos nestes vales secretos?



Na tenda do nómada, vi uma imensa multidão de monges tibetanos, os portadores caxemirenses, com as cordas aos ombros e as mulheres hindus vestidas em saris, embrulhadas em xailes indianos, vi-os desvanecerem numa miragem.
Podiam ler-se uns grafitis numa das paredes da estação de Pathankot que diziam: “Leiam os Vedas”. Um poster dos Estudantes Revolucionários estava pendurado mesmo debaixo de outro do partido de direita. No poster lia-se: “ O mundo é seu”.

E com um discurso do tamanho da alma universal e uma voz como trovão, o pedinte com as duas mãos nos ombros dele, guiava o rapaz doente com guirlandas de natal na fronte e vestido como um homem santo, irromperam à minha frente mais parecendo uma visão de outro mundo. Os rapazes tornaram-se homens santos e o sadú era apenas um pedinte arrogante.

Saturday, 10 January 2009

ÍNDIA

Himachal Pradesh - O Vale de Parvati


Caminhei quinze quilómetros de Varshani-Pulga ao longo do rio Parvati. Havia neve nas encostas do outro lado. O objectivo era Khirganga mas disseram-me que havia entre 60 a 90 cm de neve no caminho, e não me senti capaz de fazer esta rota sozinho. Por isso voltei para Manikaran, por aldeias minúsculas como Ruskatar ou Raskar ou Sangnar. Do outro lado do vale, Pulga e outras aldeias pareciam intocáveis debaixo da neve.

Incantações
Então entrei no templo, nesse momento estava um sadú, um desses homens santo indianos, a tocar o sino da entrada para o Puja, a prece, enquanto outros tocavam mais sinos, batiam nos tambores de Xiva e sopravam em chifres. Neste bastante místico momento próximo da transe colectiva, apareceu uma visão no fumo e no nevoeiro que pairava por cima das águas quentes, os sadús estavam a recitar mantras na noite fria e as silhuetas dançavam e mexiam, apelando, venerando e saudando a presença do deus.

O trilho estreito
A estrada está repleta de perigos mas a providência permanece por cima de nós brincando com as nossas frágeis e arrogantes vidas, guiando as nossas almas por este trilho estreito, e oferecendo-nos clemência de tempo a tempo. Será por isso mais ajuízado prosseguir com cuidado e atento. Apesar de todos os obstáculos e de todo o sofrimento físico, a chegada é pura e transparente semelhante a uma nascente natural.



Toda esta luz e infinita sensação de espaço e grandeza são a merecida recompensa desta viagem, o “leit motiv” que se repete, que ecoa incessantemente nas nossas mentes como um mantra.

Darth – Bijli Mahadev
Apanhei um autocarro para Akhara em Kulu, com destino para Chansari, e daí subi pelos degraus de pedra até a aldeia de Darth. Dois quilómetros que pareceram dez, fiquei sem folgo várias vezes, e o meu coração batia muito rapidamente e freneticamente, completamente fora de controlo. Por isso parei completamente e esperei um bocado a fim de recuperar balanço. Aliás não tinha outra hipótese, fiquei como paralisado.

Não sei qual é a altitude exacta de Bijli Mahadev, alguns dizem 2490m, outros 1950m. Mas não há cume tão alto perto de Mathan. Do templo de Xiva, consegue-se ver o Vale de Parvati em todo o seu esplendor, assim como o Vale de Ghansa, e de Bhuntar até Bajaura. Os altos cumes na direcção de Manali pareciam bastante distantes e muito impressionantes, mesmo desta distância. Os meus olhos nunca viram tão longe e tão profundamente para dentro do horizonte distante.

Malana e Khirganga não são de esquecer.

Bijli Mahadev deve ficar a 2460m de altura, outro mapa indica a mesma altitude.



Baikhali
Hoje atingi a pequena aldeia de Bhaikali, mesmo por cima da cidade de kulu. O templo de Jagarnathi Maha é um lugar agradável assim como a aldeia. O templo, de 500 anos, abriga interessantes pinturas sobre vários aspectos de Dhurga, como o refere o meu livro, e estão de tal maneira feitas que fazem lembrar livros de banda desenhada actuais. Alguns sinos perduram-se no tecto, as pinturas mostram tigres, elefantes, cenas pacíficas da vida nas montanhas, mas também morte e sangue, deuses e deusas sobre tigres, lutando terríveis demónios, e um rei ordenando a morte de um monstro, com os altos cumes dos Himalayas como fundo.

Ofereceram-me um chá no templo e depois, voltei para Kulú por um trilho de dois quilómetros de comprimento pela montanha abaixo, que me levou uma hora para completar, a minha mochila atrasou-me bastante. Como não estou habituado a caminhar nas montanhas, fiquei nervoso o que tornou o meu passo inseguro.

Coisas estranhas acontecem-me quando entro em templos. Não são coisas perigosas mas provavelmente sejam piadas dos deuses. Coisas como escorregar em frente da imagem do deus Xiva, ou perder o meu equilíbrio. Em Bijli Mahadev, a parte de trás da minha cabeça bateu no telhado baixo de madeira mesmo depois de me inclinar e ter tocado no sino. Em Pathli Khul, perto de Nagar, escorreguei na lama em frente de uma peculiar estátua de dois metros de altura. Estes são céus diferentes, e outros são os deuses que os regem, toda a prudência é necessária.

Monday, 17 November 2008

ÍNDIA

Himachal Pradesh - Um homen que sabe o seu caminho
"Um homem que, ali, sabe o seu caminho, pode desfiar a polícia da capital de Verão da Índia, tão engenhosamente uma varanda comunica com outra varanda, alada com alada, e abrigo secreto com abrigo secreto. "
in Kim por Rudyard Kipling

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Todas as princesas da Índia fixam através das suas janelas decoradas de madeira cinzeladas, a fim de verem esta caravana passar pelas aldeias, sofrendo as pesadas quedas de neve dos Himalayas. Elas expõem a sua pele delicada à luz do dia para desejá-lo fortemente, estimulando essa coisa quente entre as pernas. Mas ele não pode parar a viagem da sua caravana, como o músico itinerante, o marido ciumento lhe cortaria a cabeça só por um olhar.

Oiçam todos os anjos de Deus choram, o coro canta Lacrimosa neste Requiem, mais uma lenda está prestes a cair. Kim está deitado agonizando no seu leito de morte. À medida que as nuvens negras cobrem a luz do dia, o fim torna-se cada vez mais próximo, mais assustador e angustiante do que nunca.

Um macaco quase me roubou os meus óculos quando estava a deixar Jaku Mandir em Shimla. Ele saltou para a parte de trás do meu ombro, agarrou-me e tentou tirar-me os meus óculos da cara. Felizmente, fui mais rápido do que ele, tirei-os antes mesmo antes de ele amarrar na armação. O sacana não desistiu sem os entortar. Curiosamente, o templo alberga Hanuman, o Deus Macaco, comandante dos exércitos de macacos no Ramayana.

Uns dias depois, vim a saber que Hanumam também Senhor da respiração, Filho do Deus do vento, tem cinco faces e vive em nós sob a forma de cinco ventos ou energias, e impregna o nosso corpo, mente e alma...
in Light on Pranãyãmã por B.K.S. Iyengar

De volta em Odder, os pássaros ainda cantam. Os campos tornam-se verdes, à medida que se aproxima a primavera.

Fui para as montanhas. Aí, os corvos crocitavam que Kim tinha desaparecido numa pesada tempestade de neve. À partir de então, mais ninguém soube do seu destino.

Acerca do sino budista que chama para o Puja, enquanto os crânios rapados juntam-se numa assembleia em meia lua, cantos religiosos são cantados na alegria budista. Os trajes púrpura escura, parados ao sol, sentavam-se em uníssono perto das folhas grandes das árvores fruteiras.

Vozes femininas que recitavam cantos religiosos, ouviam-se na noite.

O chá doce e o chá salgado
As monjas, as chomos, trazem a comida para o almoço e para o jantar, pelo caminho de terra no qual a Svastika e as Quatro Jóias do Budismo foram desenhadas. Fazem-no todos os dias, por volta de mais ou menos a mesma hora, devagar sem pressas, e trazem o chá doce ou o chá salgado a fim de aclamar as nossas almas com sede.

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Por volta de 1900, um monge japonês budista zen, viajou vários anos entre a Índia e o Tibete. Ficam aqui alguns dos seus comentários.

Acerca do estilo dos debates tibetanos:
"... Quando ele (um dos participantes) profere as palavras de uma pergunta, ele bate com as mãos e os pés. O professor ensina sempre os catequista que o pé devem cair com tal força que a porta do inferno partirá e abrirá, e as mãos devem fazer um barulho tão grande que a voz da sabedoria assustará os demónios pelos mundos fora..."
Ekai Kawaguchi

No Tibete, o Funeral Celeste consiste em cortar os cadáveres dos mortos em bocados mais pequenos, e de deixá-los num lugar aberto a fim de alimentar os abutres. Entre os monges tibetanos, alguns são responsáveis por esta preparação.

"... Eles preparam o chá, ou ajudam-se a si próprios para cozer farinha, com as mãos salpicadas com puré de carne humana e ossos, porque eles nunca lavam as mãos antes de preparar o chá ou de tomar comida, a única coisa que eles fazem é bater com as palmas, a fim de livrar dos fragmentos mais grosseiros. E assim tomam uma boa quantidade de carne moída, ossos ou cérebro, misturada com o chá ou a farinha... Quando sugeri que eles podiam lavar as mãos antes de tomar refrescos, olharam para mim com ar de espanto. Zombaram a minha sugestão, e ainda observaram que comer com as mãos por lavar adicionava condimento à comida; além disso, o espírito do defunto estaria satisfeito se os visse tomar fragmentos dos seus restos mortais com a comida sem aversão."
Ekai Kawaguchi

Tudo parece muito mais claro agora que a neblina desapareceu da minha mente. As montanhas são chamadas montanhas, os vales, vales, e os cumes com neve tornam-se mais distintos à medida que são atingidas alturas nunca vistas. Estive cego durante mil anos, estava a imaginar paisagens diferentes e outras imagens. Apesar de tudo, o caminho para dentro das profundezas do vale é longo mas extremamente gratificante. Guia o meu pé nesta viagem de maneira a que não me afaste.

Não confio nestes homens que caminham de mão dadas na rua, e que sentam nos joelhos uns dos outros.

O meu barco foi afundado por piratas no rio. Vagueio agora, pela selva, há dias a fio sem ver rasto humano. Estou provavelmente a caminhar e círculos.

Não há futuro, não há passado, mas apenas e somente presente, principalmente e essencialmente agora, aqui e nada mais. Não há memórias passadas, não há experiências esquecidas, não há tristeza, não há remorso, não há escravatura, não há afeição ao que não existe, e por isso, inalcançável e ilusório futuro. Mas alegria sem fim no momento presente.

Não existe possibilidade de retratar tamanha beleza, apenas uma ínfima parcela consegue ser memorizada. Porém, ela pavoneia-se em frente dos nossos olhos, sem que possa fazer coisa alguma a fim de possuí-la.

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Não consigo desenhar o som contínuo e nocturno dos insectos nem o insuportável calor tropical.

Wednesday, 7 May 2008

ÍNDIA

Himachal Pradesh - O bazar de Kangra
Passei o primeiro dia do mês na estrada, a respirar a poeira e a lutar com os meus inimigos habituais, e penso que isto foi um bom começo. Fui até Palumpur, uns trinta ou quarenta quilómetros para leste de Dharamshala. Palumpur consiste basicamente numa estrada principal com comércios, relativamente interessante, algumas lojas com algum charme, mas não fiquei muito tempo, tomei o meu almoço numa barraca indiana barata, e fui-me embora depois de um bom passeio.

Um homem fez o sinal da cruz na testa ao cruzar-se comigo. Vi algumas lojas de instrumentos musicais, principalmente de percussão.

Decidi tomar um autocarro para a cidade de Kangra que dá o seu nome ao vale todo onde se encontra, e que eu acho muito mais interessante do que Palumpur. A chegada fez-se ao fim do dia. Decidi então pernoitar em Kangra, caminhei na direcção do templo, que se podia avistar à uma distância de algumas centenas de metros, e descobri um bazar antigo, habitado por todo o tipo de pessoas, e desenhado por ruas estreitas que pareciam surgir directamente de algum conto da Ásia Oriental.

Na manhã seguinte, as ruelas que subiam para o templo, acordavam com o trabalho dos comerciantes, que colavam Xivas, cobras, tridentes e efígies de metal dourado em cima dos panos coloridos das bancadas.

É exactamente como tudo o que se pode imaginar quando nos são contados, por viajantes mentirosos, que gostam de exagerar e de se gabar, mágicos lugares distantes.

Então um dos deuses disse que isso era bom e mostrou-mo, colocando-o perante a minha vista. Senhor, que doce e bonita ilusão que Tu criaste.



Himachal Pradesh - A chama eterna de Jawalamuki
Quando atingi o templo de Jawalamuki nas colinas, pelas ruelas de vendedores de imagens de Deus, tirei os meus sapatos numa loja pequena ao pé da grande construção e entrei pelo portão adentro. Caminhei pela alta e decorada, porta principal, descalço no chão frio, e senti-me bem em relação a isso, era um sentimento quente e livre que me acompanhou ao atravessar as diversas secções do lugar.

Num dos corredores, Kali a deusa preta, estava de frente à Ganesh, o deus de cabeça de elefante, e no pátio, jovens rapazes brâmanes, vestidos de trajes amarelos, estavam a ter uma bastante acesa discussão, enquanto um homem batia em tambores, por entre as preces e as ofertas dos peregrinos.

A minha visita foi interrompida por um homem que me perguntou o que estava a tentar fotografar. Uma pergunta bastante estúpida, como qualquer pessoa pode reparar, feita por um idiota, incapaz de ver a beleza divina, tão cego ele estava pela inconsistência dos seus argumentos. Deixei o sítio bastante aborrecido.

Fora do portão, num dos muros, um macaco estava a fitar-me com uma expressão estúpida.

Wednesday, 30 April 2008

ÍNDIA

O narguilé de flores cinzelado sem propósito
O narguilé de flores cinzelado estava em cima da mesa na altura da minha chegada. Através da cortina, podia-se ver uma águia feita de ouro, na árvore em frente à janela. Perto, o monge tibetano estava a ler textos sagrados em silêncio, sentado de pernas cruzadas, inclinando e levantando a cabeça e o tronco, ao ritmo imaginário que a leitura impunha. O dhoop queimava devagar num dos cantos do quarto, o fumo perfumado enchia o ar da sua lembrança efémera. Tudo se encontrava no seu devido lugar, parado, silencioso e sem qualquer intenção ou vontade, mantendo-se apenas e daí sem propósito. Apenas uma mosca e o som do sino budista que vinha de cima, água estava a correr nos canais no templo hindu, mais abaixo no vale.

Na cabana que vendia chá, depois de atravessar a ponte, o velho ou a miúda, preparam o chá com leite para os clientes. E se forem para o leito do rio, seco nesta altura do ano, podem ver pequenas caravanas de mulas atravessar os rochedos, conduzidas por homens com turbantes. O rio corre abundantemente quando a neve funde lá em cima nas montanhas do Daulahdaur, mas a maior parte do tempo, não passa de um pequena poça com peixes, de águas paradas, que pode ser atravessado sem grande esforço.



As paredes à entrada do templo perto da estrada são de uma cor branca que cega a vista, debaixo do sol, e o velho embrulhado no seu cobertor espera por transporte.

Todos os estudantes estavam sentados no chão no topo do prédio, ao ar livre, como é costume fazer-se na Índia e no Nepal, todos reunidos sob a vigilância do professor de Gramática e de um lama de alta nível, vindo de Mac Leod Ganj, concentrados em fazer os seus exames escritos, todos de frente para o Ocidente (sem razão nenhuma, foi apenas a maneira mais conveniente de dispor todos os alunos). Ao que parece, não montaram nenhuma tenda desta vez, foi tudo feito ao ar livre debaixo do sol ao sopé dos 4000 metros da parede do Dauladhaur.

Himachal Pradesh -Masrur
Tive de caminhar uns tantos quilómetros para chegar a Masrur, os templos de pedras ficavam bastante distanciados da estrada. Felizmente, um jovem de vinte anos, que chegou no mesmo autocarro, e como eu era o único a descer nesta paragem, e ocidental ainda por cima, começou a falar comigo, e ofereceu-se como guia até ao lugar. Então depois de tomarmos chá e uns doces na barraca, bakshish outra vez, começamos a caminhar. Por sorte, ele morava perto.

Estava preocupado em chegar lá depois de anoitecer, estava-se a fazer tarde, o autocarro levou tanto tempo para fazer a viagem, seguiu uma rota mais longa, segundo percebi, foi por isso que hesitaram tanto tempo na estação antes de me venderem o bilhete. Não foram capazes de me explicar a situação, ou não quiseram, como acontece frequentemente na Índia. Política indiana, suponho eu.



Quando o meu guia parou, ele disse que tinha chegado a casa e apontou para a direcção que eu tinha de seguir. Então, comecei a subir uma colina através de um bosque. Siga o trilho, costumam dizer.

Quando cheguei ao topo, podia perfeitamente ver essas construções de pedra, o lugar era isolado e ninguém se encontrava lá.
Senti os antigos sábios através do silêncio e da solidão das altas pedras trabalhadas dos templos de Masrur, a presença deles podia-se sentir pairar por cima do topo das torres dominando as águas verdes do lago. A presença das suas meditações silenciosas sussurrava à volta dos rochedos ao fim desta tarde. De repente, este fragmento de tempo tornou-se mágico quando o tempo parou e quando mostrou um esboço de eternidade, numa perpétua emanação deste lugar.

Enfrentei-o num segundo apenas, enquanto o sadú de cabelos compridos se mantinha à entrada da sua casa de madeira.

Nota: bakshish é um costume asiático que faz com que um favor requer outro em troca.

Monday, 3 March 2008

ÍNDIA

Himachal Pradesh - Odder - Demchog
A fome e sede, os perigos das torrentes velozes e das gélidas tempestades de neve, a dor de contorcer-se debaixo de pesados fardos, a ansiedade de deambular por regiões selvagens sem caminhos, a exaustão e as lacerações, todos os problemas e sofrimentos que eu mesmo agora atravessei, pareceram poeira que foi arrastada ao lavar e purificada pelas águas espirituais do lago; e assim atingi o plano espiritual do Não-Ego, juntamente com este cenário que mostrava a sua Realidade Própria.
Ekai Kawaguchi, circa 1900, in “A mountain in Tibet” by Charles Allen

From time to time God causes men to be born – and thou art one of them – who have a lust to go abroad at the risk of their lives and discover news – today it may be of a far-off thing, tomorrow of some hidden mountain...
Rudyard Kipling in “Kim”

Depois do vento parar, vejo uma flor cair. Por causa do pássaro que canta, encontrei a calma da montanha.
Poema Zen in “Zen Mind, Beginner´s Mind” by Shunryu Suzuki



A noite nunca foi tão escura, a chuva tão pesada nos nossos ombros e o medo tão fortemente perturbador. Assim, a escuridão cobre a nossa lucidez, os nossos passos desviam-se do caminho, podemos rezar pelas nossas almas perante a omnipotência da Natureza e a magnificência de Deus, nunca nos sentímos tão fracos nesta noite negra. Quando a luz do dia desvanecia, demónios podiam ser vistos no pátio, fitando-nos, demónios budistas coloridos como nas pinturas tibetanas. Milhares de fantasmas assombram a nossa vista, com um olho maléfico e dentes compridos e afiados, assustando a nossa frágil racionalidade.

Vi Demchog caminhar de mão dada com a loucura humana.



Tenzin impressionava-se com esta imagem e costumava olhar para mim com uma curiosa cara espantada, ela também estava a assustar-se.

A tempestade, ou mais exactamente a sucessão de tempestades, durou a semana toda, com chuvas pesadas e ventos fortes, a luz ia abaixo constantemente, durante longos períodos de tempo intermináveis. Durante estas alturas, estávamos completamente à mercê da natureza. Senti que quase nada nos podia proteger contra as forças da natureza. Imagino viagens de barco nos tempos antigos, imagino viver na escuridão total. As monjas tinham um armazém de velas que elas distribuíam em tais ocasiões.

Ao fim da tarde, podíamos ouvir estranhos gritos de animais, que se assemelhavam a risos humanos e que me lembravam hienas ou cães loucos. A princípio, estava impressionado com estes gritos estranhos, soavam como gritos humanos que vinham dos campos vizinhos, mas não conseguia localizar donde exactamente. Eram tão humanos que estava a dar-lhes bastante atenção. Em realidade, falaram-me mais tarde, de cães selvagem ou uma espécie de raposa como aquelas que eu avistei no pátio, assustadas comigo, os olhos brilhantes, reflectindo o projector que tinham instalado no piso de cima, dando a impressão de uma má imagem, de muito má qualidade.

Uma semana de chuvas pesadas e temporais, a luz foi cortada uma infinidade de vezes, acaba-se por viver no escuro, à luz da vela. Uma noite, a noite em que foi visto na escuridão, Demchog, a divindade irada de cor preta com muitos braços, e um colar de crânios humanos à volta do pescoço, isso depois de uma das minhas aulas, uma das minhas mais novas alunas ter desmaiado, de ter desfalecido no chão e daí num profundo coma, rasgado por uma espécie de crises epilépticas ou histéricas, possuída pelos seus próprios demónios. Inconsciente durante vários dias, ela esteve acordada apenas umas horas, o coma perturbado pelas estranhas convulsões, erguendo o tronco na cama. Gritava pela mãe, amarrava o estômago e sofria terríveis dores tanto físicas como espirituais.

No hospital de Dharamshala, disseram às Chomos de que ela sofria do coração, depois de longamente examinada. Penso que não encontraram explicação nenhuma para o sofrimento dela.



Como ela agarrava o estômago ou mais precisamente o espaço debaixo do esterno, onde a caixa torácica começa, isto com ambas as mãos, podia-se pensar que um dos chacras estava desequilibrado. Algo relacionado com um trauma passado. Viria a ser verdade, visto que me disseram mais tarde que viu a mãe morrer em criança.

Ela mantinha-se deitada na cama, rodeada pelas outras monjas, elas recitavam preces enquanto as amigas mais próximas, seguravam nela e tentavam acalmá-la quando erguia a parte superior do corpo. Isto durou uns tempos até se tornar “usual”, quero dizer, levá-la ao hospital durante as piores crises e trazê-la de volta para o instituto quando a medicina não conseguia encontrar algum remédio. Elas estavam a pensar trazer um lama de alto nível, um destes eruditos em ciência tibetana ou magia, como eles são todos depois de uma certa idade, mas não o fizeram, não sei porque razão.

Thubten veio às minhas aulas hoje, pela primeira vez desde os seus ataques. Ela parecia pálida e terrivelmente mal mas está a recuperar.

Monday, 18 February 2008

ÍNDIA

Odder - Ornitologia
Cheguei de madrugada a Dharamshala, depois de viajar toda a noite, desde Nova Deli. Na estação, estava um saddhu indiano, sentado num banco de madeira, e perto, algumas mulheres em saris coloridos. Acenou com a cabeça, olhou para mim com um sorriso cândido, como se estivesse à minha espera, e como se me conhecesse desde sempre. Inclinei ligeiramente a cabeça como para responder ao cumprimento dele. Muitos pássaros esvoaçavam à altura do chão, e faziam muito barulho pela estação, no ambiente irreal da névoa desta nova madrugada. Ainda prezo o forte sabor deste algo muito novo. Suponho que ele me conhecia de uma qualquer incarnação passada.

Dharamshala está dividida em duas partes, a inferior e a superior, ou a de baixo e a de cima, como se preferir. As duas partes estão separadas por vários quilómetros e no entanto, oficialmente, ou talvez não, sejam uma e mesma vila. À parte de cima chamam, não oficialmente, Mc Leod Ganj, por isso à parte de baixo chamo simplesmente Dharamshala, que é qualquer coisa com “abrigo do peregrino”, sendo dharam, peregrinos.

A parte de baixo de Dharamshala, é essencialmente uma estrada única que se estende sobre uns quilómetros, a dois mil metros de altitude, de maneira não muito ordenada, e espalhada pelas encostas, como é típico destas localidades asiáticas de montanha. Contrariamente à sua contraparte superior, a vila de Mc Leod Ganj, onde reside o exílio do Dalay Lama e do governo tibetano que o seguiu, a pequena Lassa, como a chamam, Dharmsala não é tão “viva” como a comunidade tibetana e os seus seguidores e admiradores ocidentais africalhados.



Em baixa Dharamshala, a comunidade é de origem local, de raiz indiana e de religião hindu. Vivem lá, no entanto, dezenas de portadores kashmiris, ou da Caxemira, habitualmente estão encostados aos muros onde param os táxis e os autocarros, à espera de serviço. Estes fulanos costumam ser barbudos fortes, oriundos dos altos lugares do Norte da Índia, vestidos das grossas túnicas castanhas de lã que lhes são características, as cordas atadas ao cinto à maneira de cavaleiros vindos da idade média, e ao qual impingem trabalhos de escravos, carregando fardos pesados às costas, pelas ruas.

Em maioria, a gente local é hindu, o ponto vermelho entre os olhos, o bindu onde se concentra o infinito, e vivem com todos aqueles deuses por cima, que nos observem com todos os olhos deles, todas as caras e que nos acenam com todos aqueles braços, apesar de que, aqui na região, serem preferencialmente shivaístas nas suas práticas.

No caminho que deixa Dharmshala para Mac Leod Ganj, existe um pequeno templo dedicado a Kali-Matai, com pinturas de uma deusa preta, pintada nos rochedos, que sobressai curiosamente por entre os outros deuses. O Babá, o Senhor do lugar chamou-me e mostrou-me o interior, com mil e uma recomendação de cuidado, no dialecto local, que não apanhei muito bem, como não se falou uma palavra de inglês. Mesmo assim, percebi que nenhum estrangeiro podia entrar em tais lugares sagrados, como é o habitual neste tipo de situações, fazem-no perceber de tal maneira, que a coisa proibida só piora a sede curiosa, mas por muito estrangeiro e por muito estranho à religião, eu possa ser, acabam sempre por deixar espreitar. Normalmente, neste tipo de caso, não insisto, deve ser provavelmente por isso que eles abrem as portas. A deusa era negra, e as cabeças cortadas de fresco, penduravam ao pescoço.

Onde a planície acaba para dar nascimento aos Himalayas, encontra-se o Instituto budista, no sopé dos 4000 metros de altitude do Dhauladaur, uma enorme parede de pedra cinzenta que se ergue por detrás das pequenas colinas verdes. A partir de Dharamshala, fica dentro do vale de Kangra, e em Garoh, vira-se a esquerda para apanhar mais tarde, a estrada principal que leva para Kangra.

Odder é apenas uma minúscula aldeia perdida nos sopés das grandes montanhas, com duas ou três lojas básicas e uma barraca onde se bebe chá à beira da estrada. Não consta nos mapas indianos, nem nos mapas ocidentais, simplesmente não aparece em mapa nenhum. Fica apenas entre Dharamshala e Kangra, escondendo-se nalguma plantação de chá preto de Kangra, num jardim de chá, como eles próprios chamem.

Quando cheguei lá, presenciei uma luta, dois homens estavam a segurar num terceiro, no que pensei ser um caso de roubo. Apesar desta situação anormal, encontrei o “Tibeti Mandir”, o “templo tibetano”, ou melhor, o instituto budista de Odder, depois de perguntar a um dos sujeitos, e por debaixo das folhas de bananeira e outras grandes árvores, uma pequena comunidade de cor vermelha escura, estava a ver o tempo a passar, como sempre o fizeram e sempre o farão.

Passado alguns dias, foi-me dado o meu quarto, com vistas para as traseiras, para os campos vizinhos, bosques e montanhas do Daulhadaur, e para a frente para uma única quinta, pertence de uma família indiana, e para a planície indiana que desce em direcção ao Sul.

Estamos no exacto limiar onde nascem as mais altas montanhas do mundo. Por falar neles, nos vizinhos da frente, tinham por hábito de tocar a maldita miserável aparelhagem de som, em alto e bom som, às quatro, cinco da manhã, com música disco massala indiana, fazendo aquilo que eu supunha serem festas frenéticas, antes de irem trabalhar para os campos. Nota: a massala é aquele conjunto de especiarias básicas que se usam em qualquer prato indiano que se preze, e foi o nome pejorativo dado pelos turistas britânicos, e não só, à música disco, geralmente de vinte ou trinta cêntimos, dos filmes feitos em Bollywood. As monjas adoravam isto, acontece que alegrava as preces da madrugada.



Cheguei em plena altura de exames, eles estavam a ter os exames anuais de Filosofia, que duraram umas semanas, o que adiaria o início das minhas aulas. Fui repentinamente e brutalmente confrontado com um conceito completamente novo para mim, a importante lei da não acção, a não subestimar nestes círculos budistas, pois é a chave de toda e qualquer compreensão lógica de tudo o que se seguirá debaixo destes céus. Paciência será recomendada.

Subjugado pela beleza natural do cenário e os trajes vermelhos escuros cor de mogno, fiquei três dias numa espécie de limbo extático, “beato” debaixo da árvore Bo antes que começasse a pensar de novo, só então comecei a assimilar o dia a dia regular do lugar.

Por causa dos exames, foi-me dado tempo que comecei a ocupar, com o que se tornaria numa das minhas ocupações preferidas, sessões sentadas no balcão. Nada de muito importante, apenas fumava Bidis indianos e admirava toda a vida selvagem que me era oferta. Hordas de centenas de papagaios verdes eram vistos esvoaçar de maneira incansável e frenética, por cima de nós e dos campos, faziam barulho como crianças durante o intervalo no pátio da escola, por cima das nossas cabeças e nas árvores, as cores infatigáveis das penas, em movimento no céu do sol poente. Outra espécie de pássaro que não conseguia identificar, podia ser apreciada nas redondezas, mais silenciosa, mas também em grandes números, mais pesada no seu voo e com um círculo amarelo à volta dos olhos. Viria a ver, uns meses mais tarde, o que eu penso ser uma ave de paraíso por cima da loja de chá, com uma longa cauda de penas brancas de, pelo menos, cinquenta centímetros.



O professor de Filosofia tibetana vivia no quarto ao lado do meu. Ele era um monge que aparentava cinquenta, sessenta anos, exilado do Tibete, com uma expressão bastante simpática. Veio-se a provar que o homem comunicava de uma maneira bastante poderosa, através de estranhas manifestações mentais, visto que ele não conseguia falar uma palavra de inglês, o facto era que eu percebia-o e ele não falava uma palavra de inglês. Ele viria a tornar-se no que eu ironicamente chamava, de “a minha consciência”, dada a maneira como as palavras dele, os pensamentos dele, ocupavam os meus, melhor, preenchiam os meus. Ele e a Sonam, seriam poderosas mentes falantes, estas duas pessoas mostraram ser poderosos mágicos como só a tradição tibetana está repleta, na maneira xamanista central asiática, onde se enraíza.

“O que estas a olhar, é a tua força vital e é uma coisa boa”. Um pássaro entrou no meu quarto pela porta aberta da manhã e permaneceu pendurado por cima dela, durante uns tempos, enquanto me fixava com aquela cara engraçada, ele disse-me: “isto é a tua força vital” quando eu estava a olhar para as árvores e para os papagaios verdes. Ele também disse “isto é a tua felicidade” quando estava subjugado pela beleza de semelhante cenário. Ele cantou-me a sua melodia traquina e brincalhona enquanto permanecia por cima da porta, ele olhou para mim e ele era um monge tibetano.

Saturday, 5 January 2008

NEPAL

Mapas
Aqui coloco uns mapas que me faltaram na altura, levei uma fotocópias que arranjei pelo caminho, nada de muito preciso. A falta de informação pode atrasar, enganar ou equivocar a jornada. Os guias estão sempre desactualizados ou não existem simplesmente.

Nepal




Jiri - Jumbesi - Região do Everest




Katmandú - Sul Nepal


Katmandú

Saturday, 27 October 2007

NEPAL

Budanath


Fui para o Nepal com pouca informação, a ida foi improvisada depois de ter permanecido uns dias em Bodgaya.



Katmandú foi o princípio e o fim da minha estadia no Nepal. Para fugir ao calor insuportável da primavera indiana, resolvi passar a fronteira com o Nepal e subir de altitude. Estavam 40 graus em Lucknow às nove da manhã, só de fazer 100 metros a pé, ficava todo ensopado. Isso em Abril, Maio. Quanto a comer, era impossível. O meu organismo recusava-se a engolir toda e qualquer comida com especiarias locais, simplesmente ardia-me o esófago de tal maneira que não me conseguia alimentar.



Apenas cereais, iogurtes e afins eram aceites. Devo ter perdido uns bons quilos depois de Varanasi. Daí fui para o Bihar. O calor extremo numa das regiões mais pobres da Índia acabou com qualquer resíduo de boa vontade. Tinha de subir. Mudar de altitude. Daí o Nepal.

Swayambunath


A entrada no Nepal faz-se pelo Terai, uma região ainda nas planícies, nos sopés das altas montanhas, com um clima, vegetação e fauna bem próprios. Uma zona ideal para ver elefantes e outros grandes mamíferos. A região também é propícia a surtos de malária, sendo bastante pantanosa.



Depois do Terai, ainda muito parecido com a planície indiana, a estrada sobe gradualmente. Sente-se logo uma diferença tremenda entre os climas de baixa e os de meia altitude. Um alívio para o metabolismo ocidental.



Katmandú é bastante agradável, apesar do extenso folclore hippie, que pelo que percebi, desapareceu praticamente por completo, para dar lugar às habituais encarnações do turismo controlado. Falava-se numa Freak Street, muito famosa nos anos setenta, se a vi não dei por isso.



Katmandú é um sítio porreiro para recarregar as baterias, descansar um bocado, e preparar-se para mais. Daí, queria entrar no Tibete pela única fronteira que liga os dois “países”, mas depois de vãs pesquisas, descobri para o meu mal, que a fronteira estava fechada a viajantes solitários. Quanto a arranjar um grupo com um mínimo de quatro pessoas, e sujeitar-me às tarifas e imposições do turismo chinês, ia ser muito mais complicado.



Fiquei então, umas semanas a vadiar em Katmandú por cafés, livrarias e outros, antes de ir para Jiri e para os altos Himalaias, e depois voltei, ao regressar de Jiri, visto que o Norte é um beco sem saída.



Aproveita-se para ver os sítios locais, se bem que não vi tudo como os ghats, as margens do rio. Como guia, tinha umas fotocópias desactualizadas e pouco mais, foi por isso. No entanto, jóias como Budanath, uma das maiores stupas do universo budista tibetano, não se perdem. Swayabunath, o templo dos macacos, também não.



Como as embaixadas e consulados ficam na capital, aproveitei para tirar um visto para o Paquistão, a minha nova alternativa ao Tibete, e outro somente de trânsito para atravessar a Índia até Amritsar, fronteira como o Paquistão. O visto custou-me uma fortuna, contrariamente ao meu amigo belga, que o obteve por um preço muito mais barato, isso devido a acordos entre os governos.



Pelo que me apercebi, Portugal nem devia constar nas listas deles, nem devia ter relações diplomáticas com o Paquistão, uma miséria. O Yves olhava para mim com cara de gozo, por ter conseguido um visto muito mais barato que o meu. Uma das poucas vitórias dele.



Separámo-nos depois duma caminhada memorável pelos caminhos que levam ao Everest. Segui para a Índia, desta vez pelo lado ocidental do Nepal, e depois até a fronteira com o Paquistão. Não acredito em fenómenos paranormais, mas feito extraordinário, voltei a encontrá-lo várias semanas depois em Pequim, uns bons milhares de quilómetros mais para Norte, e no meio de uma multidão que só mesmo em Pequim, cidade com mais de 11 milhões de habitantes, se consegue ver. Para meu grande espanto, lá estava ele, a apreciar um desses inúmeros bailes populares que são organizados na rua, pelos bairros nos dias quentes de verão.



A esplanada grande ficava mesmo ao lado, bem cheia de gente, de canecas de cerveja e das multidudes de pratinhos chineses que são habituais nestes restaurantes ao ar livre. Coisas de rua.



Costumo dizer para mim próprio, os céus são outros, os deuses são outros. Uma fórmula que não esquecerei, válida também para quem atravessar quaisqueres paragens desconhecidas.

Katmandú


Katmandú - Durbar Square