Tuesday 24 July 2007

LEI MARCIAL EM LHASA

Activismo pró-independência e consequências
A manifestação iniciada pelos monges do mosteiro de Drepung, em Lhasa em 27 de Setembro de 1987 foi a maior desde o levantamento de Lhasa em 1959. A faísca da demonstração pacífica de Setembro teve um efeito de bola de neve, quando mais protestos de grande amplitude ocorreram nos meses e anos a seguir, cada um deles trouxe respostas violentas das autoridades armadas, incluindo tiros, detenções e tortura. Está estimado que mais de 200 manifestações tiveram lugar durante um período de seis anos entre 1987 e 1993, e que cerca de 3500 detenções foram feitas durante este período. Os participantes, muitas das vezes monges e monjas, foram etiquetados de inimigos políticos ou inimigos do estado, e os feridos foram muitas da vezes negados qualquer tratamento médico por causa das suas participações nas demonstrações.

Esta demonstração foi principalmente iniciada pela execução pública de dois tibetanos e a condenação de mais nove outros, três meses mais cedo. A execução foi assistida por cerca de 15000 pessoas. Um relatório no Buletim Tibetano (Tibetan Bulletin), um jornal em língua inglesa publicada pelo governo tibetano no exílio, declarou que a execução pública dos tibetanos teve um motivo político: "O encontro foi organizado pelas autoridades chinesas para criticar o Dalai Lama e o apoio internacional mostrado para a sua proposta de paz para a restauração dos direitos humanos e liberdade no Tibete". Em resposta, cerca de 20 a 30 monges do mosteiro de Drepung e mais de cem pessoas laicas levaram a bandeira tibetana, e apelaram para a independência do Tibete no Bharkor, o principal mercado de Lhasa, antes de andarem às voltas da catedral central. Muitos foram imediatamente detidos, torturados e presos até quatro meses.

A primeira demonstração e expressão de sentimento nacionalista foi seguida por uma segunda manifestação pacífica liderada por um grupo de monges do mosteiro de Sera em Lhasa a 1 de Outubro de 1987. Uma multidão de 3000 apareceu para a demonstração, mas a demonstração pacífica tornou-se violenta depois de as autoridades chinesas agredirem protestantes; detiveram cerca de 60 pessoas e as mantiveram na esquadra de polícia de Bharkhor. A esquadra de polícia foi incendiada enquanto manifestantes estavam dentro. As autoridades responderam, abrindo fogo indiscriminadamente sobre a multidão, do telhado da esquadra. Acredita-se que pelo menos 19 pessoas foram mortas e centenas feridas. No dia seguinte, enquanto um pelotão guardava a cidade, a polícia de segurança fez uma rusga no mosteiro de Sera e levou a cabo detenções massivas.

A 6 de Outubro de 1987, ocorreu outra manifestação e acredita-se que cerca de 12 pessoas foram mortas. Uma estimativa de 600 manifestantes foram detidos. Consequentemente, foi relatado que alguns dos detidos foram torturados pela polícia.

O 5 de Março de 1988 marcou o ponto de maior violência dos protestos durante este período. No último dia do Monlam Chenmo (o festival da Grande Oração), uma ocasião que atrai centenas de milhares de peregrinos, de bastante longe para Lasa, monges do mosteiro de Ghanden confrontaram guardas durante a cerimónia de encerramento, apelando à libertação do preso político, Yulo Dawa Tsering. Apesar da sequência de acontecimentos permanecer incerta, um guarda chinês disparou e matou um homem de Kham, e a situação rapidamente se degradou. As autoridades chinesas começaram a usar gás lacrimogénio e disparou contra a multidão quando as pessoas começaram a gritar slogans. Enquanto completavam o último circuito do Bharkor, os monges deslocaram-se para dentro do templo do Jokhang para se refugiar. A polícia chinesa armada popular (PAP) esperando dentro do templo, fechou as portas e atacou cerca de 100 monges usando paus com pregos e facas. Houve relatos de monges que foram espancados indiscriminadamente, e atirados do telhado, e que gás lacrimogénio foi usado. Cerca de 15 monges foram espancados até a morte dentro do Jokhang. Muitas outras pessoas foram detidas em Lasa depois da manifestação, estimadas em 10000 incluindo aproximadamente 100 monges. Os detidos foi sujeitos a tortura e tratamentos crueis.

Lhasa selada
A partir de 1 de Outubro de 1998, Lhasa foi selada e um esquadrão de cerca de 12000 soldados foi adicionado para reforçar o número existente das forças de segurança em patrulha na cidade, e para lidar com futuras manifestações e distúrbios. Algumas fontes estimam que estavam cerca de 200000 tropas chinesas estacionadas dentro e à volta de Lhasa nessa altura. Dois meses depois, no dia 10 de Dezembro de 1988, outra manifestação marcando o dia Internacional dos Direitos Humanos, teve lugar. A polícia chinesa disparou contra a multidão sem avisar e matou cerca de 18 pessoas.

Lei Marcial decretada em Lhasa
No princípio de Março de 1989, um ano depois do massacre dos monges no Festival da Grande Oração (Monlam Chenmo), uma série de manifestações ocorreu. Um grupo de cerca de 12 monges, monjas e laicos, participaram numa demonstração pacífica no Jokhang. À medida que o número de manifestantes aumentava, a polícia eventualmente abriu fogo das posições no telhado, matando a maior parte dos manifestantes. Os protestos continuaram no dia seguinte, cerca de 1500 tibetanos de todos os níveis sociais manifestando nas ruas. Incidentes de violência, tais como incêndios de lojas, eclodiram num acontecimento sem precedentes.

Em respostas aos protestos, a lei marcial foi decretada, tomando efeito na meia-noite de 7 de Março de 1989 como foi declarado pelo secretário do partido da TAR (Região Autónoma do Tibete) na altura, Hu Jintao, o actual presidente da RPC. Soldados armados movimentaram-se para o centro de Lhasa durante a noite, e começaram a revistar as casas dos suspeitos de envolvimento nos distúrbios e na organização da manifestação. Veículos blindados pesados e tanques circulavam nas ruas principais. Dúzias de tibetanos, incluindo crianças, foram arrancadas às suas casas e atiradas para dentro de camiões militares. Durante os primeiros três dias da operação, cerca de 75 pessoas foram supostamente mortas. No mês de Março apenas, cerca de 30000 tropas com armas pesadas marcharam sobre Lhasa. Durante os 13 meses que a lei marcial ia durar, as autoridades foram efectivamente garantidas licensa para esmagar os manifestantes, e os métodos variaram entre detenções arbitrárias e espancamentos até disparos para multidões indefesas.

A lei marcial e a presença militar limitou as actividades até 1993. No dia 24 de Maio de 1993, uma manifestação, inicialmente protestando contra o aumento do preço dos alimentos, de cerca de um milhar de pessoas teve lugar em Lhasa. A manifestação foi terminada seis horas depois, quando as pessoas começaram a apelar pela independência. As forças de segurança usaram gás lacrimogénio para dispersar a multidão, ferindo os protestantes, e fez um número importante de detenções. Foi estimado que cerca de 289 presos políticos foram detidos durante 1993, um aumento de 150 em relação ao ano passado.

Manifestações pacíficas ocorreram na cadeia de Drapchi em 1998, em resposta ao uso de violência e tortura contra prisioneiros. Mortes foram relatadas depois de guardas prisionais abrirem fogo sobre manifestantes no dia Internacional do Trabalhador em 1 de Maio de 1998, quando uma cerimónia de hastear da bandeira teve lugar na prisão. Um preso, Khedup, 32 anos, um antigo monge do mosteiro de Ganden, foi detido em Dezembro de 1995 e estava a cumprir uma sentença de cinco anos, foi severamente espancado e colocado em solitária devido ao seu envolvimento no protesto de 1 de Maio. Ele morreu a 28 de Outubro de 1998 devido a excesso de tortura.

Outras demonstrações tiveram ocorrência em 4 de Maio de 1998, quando uma cerimónia do dia da Juventude teve lugar na prisão. Sessenta prisioneiros da nova unidade nº5 da prisão de Drapchi, foram obrigados a marchar ao lado da bandeira chinesa e a homenageá-la. Outros presos foram obrigados a gritar os slogans: "conhecendo as próprias culpas", "viver pelas regras", e "comportamento para reforma pessoal". Mais tarde dois presos da unidade nº6 começaram a gritar slogans de "liberdade para o Tibete" e outros presos juntaram-se, tornando a cerimónia num caos. Como resultado, os seis presos políticos da unidade nº6 foram castigados com aumentos de sentença de um até cinco anos. Alguns prisioneiros da nova unidade nº5 tiveram as penas aumentadas de quatro a cinco anos. No mesmo dia, um monge do mosteiro de Khangmar, Lobsang Choepel, 25, suicidou-se, enforcando-se na casa de banho da prisão. Ele deixou uma nota dizendo: “Eu cometi suicídio pelos seis milhões de tibetanos. Nunca hei-de homenagear ou curvar-me perante a bandeira chinesa. Meus amigos, encontrar-nos-emos nas nossas próximas vidas. Quando os seus colegas carregaram o corpo de Lobsang Choepel, eles clamaram "liberdade para o Tibete”. Ao ouvirem o protesto, presos na velha unidade começaram a manifestar-se e a partir os portões da cadeia. Guardas da prisão dispararam contra os prisioneiros e um deles, Ngawang Sherab, foi ferido. Consequentemente, oficiais da PAP chegaram e terminaram o protesto. Os testemunhos dos antigos presos políticos que participaram na manifestação de Maio na cadeia, provam que presos são provocados, torturados, e levados até a morte, sofrem aumentos de sentença e são colocados em celas solitárias durante longos períodos de tempo.

in “KUXING: TORTURE IN TIBET, A Special Report”, Tibetan Centre for Human Rights and Democracy

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