Tuesday 24 July 2007

Sobre religião

Acerca da religião
"Aqueles que têm conhecimentos religiosos irão lentamente morrer, os assuntos religiosos estão a estagnar, o conhecimento não está a ser transmitido, existem preocupações por não haver treino para novas pessoas, e assim vemos a eliminação do budismo, que estava florescendo no Tibete e que transmitia ensinos e iluminação. Isto é algo que eu e mais de 90% de tibetanos não podemos suportar."- O décimo Panchen Lama na sua petição de 70000 carateres.

O ano de 2005 foi marcado por um aumento dramático da repressão religiosa no Tibete. Um controle maior do partido sobre práticas e crenças foi levado a cabo sobre tibetanos, se bem que a liberdade religiosa continuou a ser formalmente garantida sob a tutela das leis nacionais chinesas assim como as leis internacionais. A liberdade de culto tibetana foi calcada sendo alvo de uma campanha intensificada de "reeducação patriótica", que não passa de uma campanha contra o separatismo e o Dalai Lama, o líder do Tibete no exílio. O termo "reeducação patriótica" não passa de uma descrição embelezada de uma "lavagem ao cérebro forçada em instituções religiosas", como uma examinação forçada o revela.

O budismo tibetano tem sido desde há muito interpretado pelo governo de Pequim como uma ameaça para "dividir a terra mãe chinesa". O budismo tibetano com a sua população maioritária de leais practicantes no Tibete, com os seus influentes líderes, mosteiros, tanto masculinos como femininos, sendo assim, o princípio organizacional da sociedade tibetana, é etiquetado pelo partido como uma contradição à ideologia ateísta comunista. A prática genuína do budismo tibetano e o seu cérebro religioso, o Dalai Lama caiem dessa maneira como uma presa fácil, percebida como uma expressão do nacionalismo tibetano e um vehículo para a dissidência política pelas autoridades chinesas.

O Dalai Lama tem sido há anos, o alvo predominante de uma campanha "anti-Dalai Lama" cuidadosamente organizada na qual os oficiais chineses pressionam os tibetanos para denunciar o seu líder espiritual como cabecilha do separatismo. Medidas impostas sob a campanha "anti-Dalai Lama" incluem uma proibição de celebrar o aniversário do Dalai Lama como a posse de fotografias dele ou livros escritos por ele.

Outro altamente preocupante ponto acerca da supressão religiosa, é a violenta intrusão por parte das autoridades chinesas, nas decisões que tocam a escolha das reincarnações dentro da tradição budista tibetana. As tentativas do governo chinês com o fim de exercer controle sobre assuntos que são meramente de importãncia religiosa, foram conseguidas na medida em que o paradeiro do Panchen Lama, que foi escolhido segundo ritos religiosos, permanece desconhecido, enquanto o Panchen Lama escolhido por Pequim, está a ser publicitado como sendo o verdadeiro Panchen.

Um verdadeiro perigo que parece ameaçar o património cultural da humanidade, permanece no possível efeito a longo termo, das políticas chinesas, de literalmente esvaziar as instituções monásticas budistas tibetanas, da essência dos seus ensinos reigiosos, das suas prácticas e das suas tradições. O perigo é que os mosteiros no Tibete, privados do número necessário de graduados qualificados do ensino, possam acabar por ser recuperados, para servir a economia chinesa como atrações turísticas lucrativas, como museus repletos de objectos religiosos cuja verdadeira função foi erradicada. Entretanto, monges e monjas, são forçadamente instruídos, por oficiais chineses, para pretender serem felizes em frente de turistas estrangeiros visitantes, como se a liberdade de pensamento, de consciência, de religião, e de crença não fosse um sonho ainda por se concretizar no Tibete.

Uma breve retrospectiva histórica
Depois da sistenática destruição material das instituições monásticas, depois do assassinato de milhares de budistas tibetanos, monges, monjas e laicos nas décadas prévias, o partido chinês direcionou o seu foco para uma não sangrenta, mas no entanto, ainda mais perigosa medida de repressão: a sofisticada manipulação e doutrinamento forçado da nova geração tibetana. Para perceber porquê as autoridades chinesas chegaram a tomar este último e dramático passo, avera-se indispensável rever as passadas políticas, e os efeitos que elas tiveram sobre a práctica do budismo tibetano.

A partir de 1950, a religião sofreu um controle rígido levado a cabo por associações estatais. Aquando da consolidação da presença da China no Tibete, os mosteiros que foram reconhecidos como o patamar residente da sabedoria e ordem, tornou-se o alvo principal da repressão policial. Mesmo antes do começo da revolução cultural em 1966, mais de 2000 mosteiros do Tibete foram destruídos. Segundo fontes oficiais, de um total de 115600 monges e monjas, apenas 16900 permaneceram nas áreas afectadas pela repressão religiosa.

Durante a revolução cultural propriamente dita (1966-1976), a actividade religiosa não foi mais controlada mas categoricamente erradicada. Como foi declarado, "Durante a revolução cultural não existiram nenhuns ensinos do Búda". Bibliotecas inteiras com escritos religiosos, algumas delas únicas, foram sistematicamente queimadas, e objectos sagrados destruídos. Monges, monjas e praticantes laicos do budismo tibetano tiveram que endurar durezas sem nome, muitos foram presos, torturados e mortos.

Depois de 1977, uma fase de clemência voltou a admitir as actividades religiosas até um certo limite, particularmente em 1979, com a abertura política de Deng Xiao Ping. Até o Panchen Lama, preso no verão de 1967 por apresentar uma crítica às políticas do partido no Tibete, a Mao Zedong, foi libertado do encarceramento em 1979. O altamente venerado templo de Jokhang em Lhasa foi reaberto em 1979.

Apesar deste período de moderada tolerância (1977-86), as condições para a práctica religiosa não eram as de liberdade religiosa. Demonstrações pacíficas de monges vindos de alguns dos maiores mosteiros resultaram nas mais drásticas medidas de repressão policial de 1987. Posteriormente, as prácticas budistas tibetanas tornaram-se num alvo das observações intensificadas e do controle do governo. Entre Dezembro 1989 e Abril 1990, mais de 200 monges e monjas foram expulsos dos seus mosteiros.

A agonia pessoal causada pela destruíção do espaço onde viviam e da esfera da práctica religiosa, resultou no suicídio de muitos monges e freiras, como o testemunham várias testemunhas oculares. Numa entrevista feita pela TIN (Tibetan Information Network), uma monja relembra o pior dia da vida dela:

Eles disseram-me que eu tinha que voltar para casa e não para outro mosteiro. Eu disse que nâo queria ir embora. Então dois polícias armados entraram na minha cabana de madeira e atiraram a minha estátua do Buda para o chão. Arastaram-me para fora da cabana e um dos polícias enfiou o meu livro de recitações no fogareiro para madeira.

A fotografia de cima mostra parte do mosteiro de Drepung no Tibete parcialmente destruído. A segunda, terceira e quarta mostram casas de monges e monjas destruídas pelas autoridades chinesas, ou marcadas para a destruição, assim como a reconstrução de uma delas.

A última mostra artesãos tibetanos a trabalhar uma placa de madeira para a impressão dos textos.

in "Anual Report 2005", the Tibetan Centre for Human Rights and Democracy.

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