Tuesday 26 December 2006

PAQUISTÃO

O Karakoram
Depois de ter ficado uns dias em Katmandu, que não é nada desagradável, tinha em mente, entrar no Tibete pela fronteira nepalesa. Infelizmente, a fronteira estava fechada a viajantes individuais, o que significava, ter que me juntar a um grupo de quatro pessoas, alugar um jipe e ter que andar com um guia escolhido pela autoridades chinesas. Relembramos que o Tibete é uma zona sensível, cujas entradas são controladas, por razões políticas, mas que pelo lado perverso da situação, vai alimentar um turismo controlado por serviços chineses, onde não existe liberdade de movimento, e por preços exorbitantes.

Passei uns dias em Katmandu, sem saber muito bem o que fazer, até que descobri num café, o anúncio de um francês que queria entrar na China, pelo Tibete, com carro próprio. O processo é extremamente demoroso e complicado do ponto de vista burocrático, e já estava à espera à vários meses das autorizações necessárias. No entanto, conversámos e decidi então, voltar para a Índia, passar a fronteira com o Paquistão, entrar na China, e depois se veria.

Passei então, a única fronteira entre a Índia e o Paquistão, depois de atravessar o Norte indiano até Amritsar, seguindo depois para o Punjab paquistanês.
Cheguei a Islamabad, a capital do Paquistão para me preparar para seguir a denominada autoestrada do Karakoram, que termina em Kashgar, na China, do outro lado das segundas montanhas mais altas do mundo.

northern areas


A província das Áreas do Norte, bem longe da administração central. Hum.

gilgit


Um bocado antes de entrar em Gilgit, tem-se um vista panorâmica de cortar a respiração, para Dainyor e as montanhas à volta.

o forte de baltit


A mítica Hunza, o Shangri-la das lendas. Antes da construção da estrada, o vale de Hunza estava isolado do resto do mundo, os habitantes viviam unicamente do que produziam, dizia-se que as pessoas viviam até muito para além da centena de anos, as mais velhas do mundo. De qualquer das maneiras, Hunza é uma das regiões mais impressionante cenicamente, uma oasis de ciprestes e de campos verdes no meio da serra árida do Karakoram.

Os abricotes e outros frutos secos de Hunza são lendários em toda a Ásia Central.

baltit karimabad


Uma região de aldeias ismaelitas, caracterizam-se por um Islão mais descontraído e tolerante, estamos na antiga Pérsia, a língua é persana, e não de origem árabe. Rodeados por outras comunidades sunitas e chiitas, são frequentes, as rixas entre grupos rivais, violentas e sanguinárias.

Ouvi numa loja, uma mulher americana chamar árabe a um local, ele simplesmente respondeu que era persa.

passu


O alto Gojal, uma formação calcária que alguns assemelham a uma catedral. Outra área de extrema beleza. Uma favorita. Agradeço a simpatia, a comida e as histórias do dono do Batura Inn.

Nas aldeias vizinhas, nos vales por detrás das montanhas, era costume toda aldeia pilhar as caravanas que passavam em direção a Kashgar, numa razia colectiva sem precedentes.

sost


Sost é a última aldeia antes da reserva natural do Kunjerab, a fronteira com a China. Paga-se um exorbitância para entrar na China, muito mais do que normalmente, a mesma distância na direção oposta, mais um negócio escuro. Às vezes, em certos troços é-se cobrado o preço que lhes der na cabeça, o governo consegue pouca influência em certas zonas de sistema feudal, para não falar nas áreas tribais, onde os ocidentais são proibidos. Os clãs, as tribos são mestres do terreno. Todo o tipo de negócio é lá organizado e protegido à força da bala, os raptos são frequentes, os viajantes dissuadidos de por lá, passar, armas são fabricadas, falaram-me em fábricas de armas, drogas pesadas são cultivadas e produzidas, ópio, derivados, heroína, morfina, haxixe, marijuana, etc... Não estamos longe do Afganistão. As rotas dos traficantes passam pelas altas montanhas de e para a China, e não só. O controle nas zonas altas torna-se difícil, o poder central é fraco, quase inexistente. A nova rota da Seda?

Ouvi piadas em Islamabad, entra um tipo engravatado de malinha na mão: olá, eu sou traficante de droga.

Aqui em Sost, joga-se bilhar ao ar livre despreocupadamente.

sost kirilgoz


O cume do Kirilgoz parece dominar toda a aldeia.

sost


sost


O pequeno almoço paquistanês, em cima do tapete persa, a porcelana é fina. Na Índia, o chá com leite toma-se em copos pequenos de vidro, no Paquistão, em chávenas e pires de porcelana, achei piada ao pormenor.

sost


sost

1 comment:

nuno rebelo said...

muito interessante, a temática e as fotografias.
espero ver tudo melhor na velha-a-branca.