Monday 18 December 2006

NEONS

neon, neon, brilha, brilha na escuridão
A noite de Macau, o casino Lisboa, o ministério das finanças como lhe chamavam os locais, o império de Stanley Ho. Os suicídios nas classes empresárias chinesas, os raptos a troco de fortunas daqueles que não reembolsavam os empréstimos, 100% ao dia; mandava-se uma orelha cortada à família e sequestravam-se no décimo quinto andar de um prédio qualquer, onde ninguém os podia ouvir. A partir de 1997, quando Hong Kong voltou para soberania chinesa, houve uma emigração massiva do sub-mundo da ex-colónia chinesa para Macau e Taiwan. Abriu-se uma guerra de seitas sem precedentes, visto que o terreno local já estava ocupado, a Gasosa, a Vinte Quatro Quilates, outras mais pequenas talvez disfarçadas de associações de benficiência ou desportivas ou culturais ou sabe-se lá que mais. Tudo para o controle do sub-mundo macaense, o jogo que pagava o seu tributo ao governo, as meninas, pagavam-se fortunas para as novas e frescas oriundas da China, uns cogumelos exóticos.

Ameaçaram o governo, faziam troça dele, atirou-se "sacos de pólvora" para dentro do Palácio do governo, uns petardos maiores um bocado mas sem grandes efeito. Falou-se nos jornais de uma cabeça de cavalo cortada na casa de um juíz. O Padrinho? Tiros de metrelhadora atinginram alguns portugueses que trabalhavam para abrir o casino concurrente, uma bomba no Campo Grande, outra nos militares, alguns efectivos perante a China de bilhão e pouco. Na administração, entre os portugueses do continente, apenas o director da Judiciária falava chinês, acabou por ser transferido.

Os assuntos mais importantes judiciais e não só estavam dependentes da mafia dos tradutores mestiços. O pré-99 sob administração portuguesa que já não controlava nada foi o período da transição, a entrega de Macau a Pequim, como a professora F. disse na altura, os ratos abandonam o navio quando este afunda, apenas o capitão fica no seu posto. Mas já não havia marinheiros... Quando se juntaram as tropas de elite chinesas do outro lado das Portas do Cerco, da fronteira falava-se nos intocáveis. Estariam prontos a entrar na Cidade do Santo Nome de Deus mesmo antes de 1999. Falava-se em tocar Mahler na cerimónia de entrega, no descer da bandeira, sempre achei piada ao Mahler.

templo de A-Ma


Este era o cenário em Macau durante a transição, os funcionários voltavam para Lisboa, deram lugar aos locais, se possível bilíngues, mas ninguém falava português por entre a população, comunicava-se em inglês, e ninguém falava chinês entre os 3 mil portugueses que por lá se exilavam. Havia contribuições, é claro.

Em relação à liberdade de imprensa e os valores continentais, os que ousavam criticar publicamente o governo ou quem quer que seja era afastado. Recordo um jornalista que caíu nas boas graças de um juíz sobrevivente do antigo regime, foi recambiado para Lisboa mas só depois de ter sido mastigado e proibido de trabalhar no território. O juíz também acabaria por ser repatriado, deu muito nas vistas.

Os exilados de Timor, ainda se lutava na ilha na altura, os que anda à bulha em Díli neste momento, tinham no território loja aberta. "Fugidos" de Angola, das altas castas coloniais angolanas também se encontravam em Macau, em lugares de destaque. Desertores do PLA, o exército de libertação popular, reciclaram-se para a mafia local.

avenida Almeida Ribeiro


O inimigo público número um, favorito das gazetas locais passou a ser Pang Nga Koi, o Dente Partido. Chefe de seita vindo de Hong Kong quando esta passou para a China. Os chineses mantém a pena de morte, fugiram que nem ratos. Mesmo a mafia teme Pequim. Diz que Pequim, para a cerimónia de transição de soberania de Hong Kong para a terra mãe, o hastear da bandeira chinesa e a descida da do Reino Unido, ordenou que não houvesse confusão nessa altura. As seitas obedeceram todas sem excepção. O príncipe Charles e o governador Pattern foram-se, sem incidente, de paquete de volta para Londres.

Voltando a Pang Nga Koi, depois de semear o terror em Macau durante uns tempos, (a administração portuguesa? Perplexa?), conseguiram capturá-lo. Pequim queria-o, para executá-lo, é claro, começou então o debate em volta da extradição do homem que significava morte certa, o que era contrário ao valores portugueses.
Soube de fonte segura que não me permitiu publicar a notícia na altura, que mataram um homent pertencente às seitas na prisão de Coloane. Requinte, à garfada. A notícia foi censurada. A prisão isolada. Já niguém controlava nada.

avenida almeida ribeiro


avenida do campo grande


Os seitosos, as tatuagens nos braços e os fatos Hugo Boss, e telemóveis último grito, para não falar em carros. Para falar em carros, ofereciam-se Kias descapotáveis a troco de publicidade em jornais, talvez um ou outro favor, bakshish em indiano. De cor amarela? Umas boites duvidosas.

Encontrei escritos meus da altura, aqui vai.
Stanley Hó, o tio Stanley está a perder poder. O aviso foi dado quando assaltaram o casino Lisboa à mão armada. Nunca antes, tal se tinha sucedido, dispararam para o tecto em sinal de aviso. Stanley Hó já não consegue controlar as seitas. Controlar financieiramente é claro. O dinheiro sempre ajuda. Umas contribuições , uns donativos e lá se consegue manter a paz entre as seitas, macaenses ou de Hong Kong. Só que agora, entrou em palco o poderosíssimo Grande Círculo, oriundo da China. A demonstração de poder vem baralhar o jogo todo, já há muito definido.

A mensagem foi clara: Mr. Stanley nunca consiguirá entrar na China. O Grande Círculo - desertores ou teóricos mortos do PLA que fugiram para Macau. PLA - People´s Liberation Army, o Exército de Libertação Popular, ou seja ou exército vermelho chinês.

O ano novo chinês