Saturday 10 January 2009

ÍNDIA

Himachal Pradesh - O Vale de Parvati


Caminhei quinze quilómetros de Varshani-Pulga ao longo do rio Parvati. Havia neve nas encostas do outro lado. O objectivo era Khirganga mas disseram-me que havia entre 60 a 90 cm de neve no caminho, e não me senti capaz de fazer esta rota sozinho. Por isso voltei para Manikaran, por aldeias minúsculas como Ruskatar ou Raskar ou Sangnar. Do outro lado do vale, Pulga e outras aldeias pareciam intocáveis debaixo da neve.

Incantações
Então entrei no templo, nesse momento estava um sadú, um desses homens santo indianos, a tocar o sino da entrada para o Puja, a prece, enquanto outros tocavam mais sinos, batiam nos tambores de Xiva e sopravam em chifres. Neste bastante místico momento próximo da transe colectiva, apareceu uma visão no fumo e no nevoeiro que pairava por cima das águas quentes, os sadús estavam a recitar mantras na noite fria e as silhuetas dançavam e mexiam, apelando, venerando e saudando a presença do deus.

O trilho estreito
A estrada está repleta de perigos mas a providência permanece por cima de nós brincando com as nossas frágeis e arrogantes vidas, guiando as nossas almas por este trilho estreito, e oferecendo-nos clemência de tempo a tempo. Será por isso mais ajuízado prosseguir com cuidado e atento. Apesar de todos os obstáculos e de todo o sofrimento físico, a chegada é pura e transparente semelhante a uma nascente natural.



Toda esta luz e infinita sensação de espaço e grandeza são a merecida recompensa desta viagem, o “leit motiv” que se repete, que ecoa incessantemente nas nossas mentes como um mantra.

Darth – Bijli Mahadev
Apanhei um autocarro para Akhara em Kulu, com destino para Chansari, e daí subi pelos degraus de pedra até a aldeia de Darth. Dois quilómetros que pareceram dez, fiquei sem folgo várias vezes, e o meu coração batia muito rapidamente e freneticamente, completamente fora de controlo. Por isso parei completamente e esperei um bocado a fim de recuperar balanço. Aliás não tinha outra hipótese, fiquei como paralisado.

Não sei qual é a altitude exacta de Bijli Mahadev, alguns dizem 2490m, outros 1950m. Mas não há cume tão alto perto de Mathan. Do templo de Xiva, consegue-se ver o Vale de Parvati em todo o seu esplendor, assim como o Vale de Ghansa, e de Bhuntar até Bajaura. Os altos cumes na direcção de Manali pareciam bastante distantes e muito impressionantes, mesmo desta distância. Os meus olhos nunca viram tão longe e tão profundamente para dentro do horizonte distante.

Malana e Khirganga não são de esquecer.

Bijli Mahadev deve ficar a 2460m de altura, outro mapa indica a mesma altitude.



Baikhali
Hoje atingi a pequena aldeia de Bhaikali, mesmo por cima da cidade de kulu. O templo de Jagarnathi Maha é um lugar agradável assim como a aldeia. O templo, de 500 anos, abriga interessantes pinturas sobre vários aspectos de Dhurga, como o refere o meu livro, e estão de tal maneira feitas que fazem lembrar livros de banda desenhada actuais. Alguns sinos perduram-se no tecto, as pinturas mostram tigres, elefantes, cenas pacíficas da vida nas montanhas, mas também morte e sangue, deuses e deusas sobre tigres, lutando terríveis demónios, e um rei ordenando a morte de um monstro, com os altos cumes dos Himalayas como fundo.

Ofereceram-me um chá no templo e depois, voltei para Kulú por um trilho de dois quilómetros de comprimento pela montanha abaixo, que me levou uma hora para completar, a minha mochila atrasou-me bastante. Como não estou habituado a caminhar nas montanhas, fiquei nervoso o que tornou o meu passo inseguro.

Coisas estranhas acontecem-me quando entro em templos. Não são coisas perigosas mas provavelmente sejam piadas dos deuses. Coisas como escorregar em frente da imagem do deus Xiva, ou perder o meu equilíbrio. Em Bijli Mahadev, a parte de trás da minha cabeça bateu no telhado baixo de madeira mesmo depois de me inclinar e ter tocado no sino. Em Pathli Khul, perto de Nagar, escorreguei na lama em frente de uma peculiar estátua de dois metros de altura. Estes são céus diferentes, e outros são os deuses que os regem, toda a prudência é necessária.